O USO DE PLANTAS MEDICINAIS POR INDÍGENAS DA ETNIA XUKURU DO ORORUBÁ

Resumo

Introdução: O Brasil contemporâneo é multiétnico e possui importante potencial para desenvolvimento da sociobiodiversidade. As potencialidades terapêuticas das tradições indígenas do povo Xukuru do Ororubá, etnia sediada na Serra do Ororubá, município de Pesqueira, estado de Pernambuco justificam a necessidade de inciativas que valorizem, resgatam e aproximem suas práticas de saúde das discussões sobre as especificidades propostas na Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas-PNASPI. Objetivo: Descrever ações realizadas sobre o uso de plantas medicinais para tratamentos de saúde pela etnia em tela. Métodos: Este trabalho constitui parte do projeto de pesquisa intitulado “Memorial de Medicina Tradicional Lica Xukuru: Valorização dos Saberes e Práticas em Saúde Indígena”, aprovado pelo CEP/CONEP sob registro 58845522.2.0000.5208. Nesta etapa do projeto foram realizadas três rodas de conversa, nas 03 regiões geográficas (Serra, Ribeira e Agreste) que compõem os 27.555 hectares da área indígena demarcada sob cuidados do povo Xukuru, na Serra do Ororoubá. As rodas ocorreram com detentores de conhecimentos tradicionais e foram mediadas pelo autor da pesquisa, cuja pergunta disparadora foi: Quais as plantas medicinais que vocês utilizam para cuidar da saúde? Para responder a pergunta, um Jupago (elemento de madeira usado no ritual do Toré) com gravador fixado na extremidade, circulava na roda. Quando um membro estava com o Jupago em mãos, era seu momento de fala e os demais deveriam silenciar para ouvi-lo. Para registro das informações, as falas foram gravadas e analisadas posteriormente em seus conteúdos, com posterior sistematização das informações. Exsicatas foram coletadas para a identificação botânica. Resultados: Participaram das rodas de conversa 55 indígenas, detentores de conhecimentos tradicionais. Observou-se que existe um forte elemento de fé associado ao processo de cura pela natureza, entre os indígenas, como também forte associação ao fato de que o uso de plantas medicinais é uma referência de prática história, associada a ancestralidade deste povo. Dentre as espécies citadas, existem plantas medicinais utilizadas para gripe (Amburana cearenses; Dysphania ambrosioides), inflamações (Hymenaea courbaril; Pseudobombax marginatum; Machaerium sp), Diarréia (Psidium guajava; Plinia cauliflora); Febre (Sambucus nigra; Ocimum campechianurn), Crise renal (Myracrodruon urundeuva; Cereus jamacaru; Phyilanthus niruri), dentre outras aplicações de espécies nativas, endêmicas ou exóticas.  Conclusão: Esta análise sugere que apesar dos processos de aculturação, os indígenas mais antigos mantêm diversos conhecimentos sobre uso de espécies vegetais. Parte deste conhecimento parece ser fruto das interações com indivíduos de fora da etnia, provavelmente devido ao longo período distante do território original, que afetou gerações.