FLUTUAÇÃO FENOTÍPICA QUÍMICA NA ONTOGENIA DA PLANTA MEDICINAL Piper rivinoides KUNTH: UMA ESTRATÉGIA DE MODULAÇÃO DA DEFESA QUÍMICA?

Resumo

INTRODUÇÃO: Piper rivinoides Kunth é uma espécie utilizada para fins medicinais e ritualísticos no Brasil^1,2. Até o momento, não há nenhum cultivo desenvolvido comercialmente para essa espécie, e assim os usos populares são obtidos de espécimes silvestres. A coleta ocorre muitas vezes randomicamente, independentemente do estágio de desenvolvimento. OBJETIVO: Realizar avaliações em nível espaço-temporal da composição química é importante para inferir sobre as alterações nos constituintes bioativos e para dirimir problemas de saúde da população. METODOS: Para isso, investigou-se como ocorre a flutuação fenotípica química em óleos essenciais (OE) em  diferentes estágios de desenvolvimento de P. rivinoides de fragmento de Mata Atlântica do Rio de Janeiro. As folhas foram coletadas de cinco estágios ontogênicos, considerando o tamanho da planta (25cm, 40cm, 70cm, 2m e 7m). Os OE foram obtidos por hidrodestilação em aparelho de Clevenger modificado submetidos à análise por Cromatografia em Fase Gasosa (GC) acoplado a Detector de Ionização de Chama para quantificação e GC acoplado à Espectrometria de Massa para identificação^1,2. RESULTADOS: Foi possível identificar um total de 95 substâncias, entre mono-, sesquiterpenos e arilpropanoides. A análise do diagrama de Venn demonstrou que oito substâncias são comuns a todos os estágios ontogenéticos e que ao longo do aumento de tamanho, houve um aumento na diversificação e produção inédita química de substâncias das vias do mevalonato, metileritrosefosfato e chiquimato. A partir de análise multivariada e dos índices de quimiodiversidade, registrou-se que os plantas com 25 e 40cm apresentaram maiores semelhanças entre si e menor diversidade química, sendo os arilpropanoides apiol (15,65 – 74,69%) e dilapiol (2,29 – 3,59%) os constituintes majoritários. Plantas com 2 e 7m apresentaram maior quimiodiversidade e compartilham a exclusividade de 18 substâncias, sendo a maioria monoterpenos não oxigenados (α-pineno: 20,03 – 20,88%; (δ-2-careno: 42,07 – 16,07%). A análise de componentes principais demonstrou a formação de dois agrupamentos fruto das forças antagônicas de duas substâncias: grupo I com estágios de 25 e 40cm (rico em apiol) e grupo II com estágios de 70cm, 2m e 7m (rico em α-pineno). DISCUSSÃO: Essa dicotomia química nunca foi descrita em espécies de Piper  em ambiente natural3. A presença desses constituintes (apiol e dilapiol4) em plântulas pode estar relacionada à modulação contrapressões de herbívoros, além do processo de lignificação que é fundamental para o crescimento. CONCLUSÃO: De maneira geral, nossos resultados demonstram que as pressões espaço-temporais conferem mudanças significativas dos constituintes bioativos desta espécie o que, por consequência, influenciará mudanças no potencial medicinal.